Eu já escrevi aqui sobre o assunto do "Querer".
Refletindo sobre sobre o episódio agora, me deparo com uma situação que me incomoda.
Eu já escrevi aqui sobre o assunto do "Querer".
- Sarzedo - MG 2023
Cada coisa em seu devido lugar.
No mês de janeiro fiz uma arrumação no quartinho de casa que estava literalmente
uma bagunça!
Estava tudo amontoado, jogado, bagunçado mesmo.
Não dava nem para entrar direito no quartinho, pois os objetos impediam a passagem.
Tudo jogado.
E a procrastinação "nadando de braçada", amanhã eu arrumo...
Pois bem, o dia chegou.
Bem, não foi o dia, foram os dias, demorei uma semana para arrumar.
Precisei de um trabalho minucioso de separar item por item,
e pensar em qual lugar tal coisa ficaria.
Era um tal de desemaranhar fios, cordas, arames.
Separar e juntar um tanto de parafusos, pregos,
buchinhas que estavam soltas em tudo em que era canto.
Decidir o que não servia mais, e podia ser jogado fora para a reciclagem.
Você já guardou objetos dizendo "um dia eu vou precisar?"
Bobagem, você não vai precisar de jeito nenhum, pense bem.
Se ficou um tempão lá, e
você até se esqueceu que ele existe. Não vai precisar, pode descartar.
Existe um monte de peso inútil que a gente carrega e guarda.
Para quê?
Olhe o que diz as sagradas escrituras:
"Jesus chamou os Doze e começou a enviá-los
de dois a dois. Deu-lhes poder sobre os espíritos impuros e recomendou-lhes que
nada levassem para a viagem, a não ser um bastão: nem pão, nem sacola, nem
dinheiro no cinto; que andassem com sandálias nos pés, mas não vestissem duas
túnicas." (Marcos 6, 7-13)
O que eu compreendo dessas palavras?
Não carregue peso inútil.
Leve somente o necessário.
Nada de excesso.
Já observou o tanto de peso inútil que a gente carrega?
Falo de coisas, mas falo também de outras coisas.
Depois que eu limpei meu quartinho e tirei o excesso, ficou muito melhor para poder
trabalhar. Agora sei onde exatamente minhas ferramentas estão.
Não perco um tempo inútil procurando e me perguntando: onde está o martelo?
Onde foi que eu o coloquei?
Nisso eu fico nervoso, eu me desgasto, perco tempo, perco o equipamento e não faço
a tempo e com precisão o que precisava ser feito.
Prentice Mulford disse que "pensamentos são coisas", pois bem.
É preciso organizar nossos pensamentos, nossas ideias e sentimentos da mesma forma
que organizamos nossas coisas. Descartar o inútil, ficar somente com o necessário.
Cada coisa deve estar em seu devido lugar. Nós devemos estar no nosso devido lugar.
Qual é o meu lugar no mundo?
Onde estou? Que lugar estou ocupando?
Estou guardando coisas que não me servem mais?
Eu preciso mesmo disso?
São perguntas que precisamos fazer constantemente.
Ontem é passado, amanhã é um mistério, o que temos é somente o hoje, por isso
se chama presente. Conhece esse ditado?
Então, por que ficamos guardando ressentimentos, mágoas e coisas que passaram conosco
no passado?
Por que nos afligimos pelo que possa aparecer amanhã?
Não temos o dia de amanhã.
Eu posso morrer hoje.
Aliás, esse é o tempo de cada morte.
Observe as manchetes dos jornais: "Morreu hoje Zagallo, morreu a atriz que trabalhou na novela...,
morreu hoje fulano, beltrano, trajano...
Na nossa caminhada de vida não podermos levar peso em excesso.
Com peso extra gastamos mais energia, nos cansamos mais, nos desgastamos.
A jornada fica mais árdua e menos prazerosa.
O gostoso da viagem é curtir a paisagem, conhecer lugares novos e bonitos.
Aliás, também não vale ir correndo, é preciso ir devagar.
O destino está lá esperando.
Ao pesquisar músicas para o teatro encenado pela turma "Marrom"
alunos do 4 ano do Ensino Fundamental no ano de 2023, eu descobri esse vídeo no
You Tube e não é que ele se encaixou bem com a nossa história?
Veja a tradução da música:
A música é de uma mensagem tão poderosa!
O desenho eu pesquisei no Google e achei que combinou perfeitamente com a
heroína do teatro: "É Gaia, pronta para a luta."
O desenho foi colorido pelos alunos em sala de aula, nesse caso pela aluna
Isabelly.
A música e a letra foi trabalhada como conteúdo de Língua Portuguesa.
A letra traz uma mensagem de encorajamento para vida.
Gosto muito dessa parte: "Tire os monstros de sua cabeça, durma em paz!"
Não tem coisa melhor de nos livrarmos de nossos pesadelos e poder dormir?
Por isso, durma em paz!
Esqueça os problemas, enfrente seus medos. Viva feliz!
Você merece!
Sala de aula da Escola Municipal Eva Fernandes Caldeira
TECENDO UMA AULA
Breno José de Araújo
Um professor sozinho não tece uma aula:
ele precisará sempre de seus alunos.
De um que apanhe sua explicação que ele
e pergunte a outro; de um outro aluno
que apanhe a explicação que uma aluna antes
e pergunte a outra; e de outros alunos
que com muitos outros alunos se cruzem
as dúvidas e perguntas de suas mentes,
para que o conhecimento, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os alunos.
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E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(o conhecer) que plana livre de armação.
O conhecimento, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
Paráfrase de "Tecendo a Manhã" de João Cabral de Melo Neto.
Educação pela Pedra e outros poemas
Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
Brinco com meu filho de 4 anos de esconde-esconde, é sua brincadeira favorita.
A gente precisa esconder o rosto e contar de um até dez para dar tempo do outro se esconder.
Eu costumo brincar e começo a contar de forma rápida: 1,2,3,...10.
Ele volta e fala para mim: "pai, de-va-gar..."
É gostoso demais ouvi-lo dizer isso. Eu me divirto. E depois conto devagar.
Sabe que aí está a chave de uma vida mais tranquila com menos stress?
Diminuir o ritmo de nossas vidas.
Estamos indo muito rápido!
Não sabemos esperar, não temos paciência...
É o resultado do acesso aos bens materiais que temos hoje, diferente de 30 anos atrás.
Pense comigo, pelo menos é a minha experiência.
Antes, tínhamos uma televisão preto e branco com apenas 4 canais disponíveis.
Normalmente o melhor canal era da TV GLOBO, acredito que a emissora tinha mais
recursos que as concorrentes.
Mas, eram 3 minutos de programa e 7 minutos de propaganda e tínhamos a paciência
de esperar. Dava tempo de ir ao banheiro e beber água. Falando em paciência,
nosso programa favorito tinha dia e hora marcada por semana e os episódios podiam ser
repetidos, nos assistíamos assim mesmo.
Todos os integrantes da família via o mesmo programa e dormíamos cedo.
Quando eu ia para a casa de minha tia precisava pegar dois ônibus para ir e dois para voltar.
Havia um tempo de espera do ônibus que podia chegar a uma hora.
Esperar a sua vez era normal, saber compartilhar também.
Esperar na fila para se fazer uma chamada telefônica, cada ficha dava direito a 3 minutos.
Hoje, temos carro, temos internet, celular, netflix e uma infinidade de bens materiais que
transformaram nossa vida bem mais confortável.
Não damos conta de esperar 30 segundos de tempo para pular a propaganda do You Tube.
Cada membro da casa tem seu perfil individual na TV que oferece uma infinidade de opções
de acordo com um algoritmo que "advinha suas preferências".
Tudo entregue de "mãos beijadas"
não precisa nem ter o trabalho de pensar.
Mas, esperar é muito importante.
Custa muito!
Sabe quanto custa!
Custa VIDAS!
Quantas pessoas não morrem por ano no Brasil por causa de acidentes de trânsitos?
Muitas vezes o motivo é a velocidade do veículo que estava muito acima da permitida.
Há muito tempo tirei a foto acima. É um inseto camuflado de folha.
Estava pousado no flanelógrafo de uma sala de aula.
Achei interessante e não tive dúvidas: fotografei.
Ele é lindo! Mas, me fala mais.
Sabe o que ele me fala?
O mimetismo é uma forma dele se defender dos predadores.
Ele se parece com uma folha seca.
Vai se misturar junto de outras folhas.
O predador que passar muito rápido não vai prestar atenção nele.
Viu? Diminuir o ritmo, salva vidas!
Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e de até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão.
Na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Texto de Carlos Drummond de Andrade anotado em meu caderno no dia 19/07/1994.
Não sei mais em qual livro eu copiei. Eu só sei que quando li esse texto eu gostei muito.
30 anos atrás.
O que eu estava fazendo nessa época?
Tinha 20 anos. Estava desempregado mas estava estudando. Eu fazia magistério
na Escola Sandoval Soares de Azevedo em Ibirité- MG.
Eu lia muito, mas muito mesmo! Disso eu posso me orgulhar.
A leitura é para mim um hábito. Desde quando aprendi a ler, eu sempre estou lendo.
E há autores que me marcam, como Carlos Drummond de Andrade.
Tenho textos dele que guardo e leio sempre, como esse acima.
Quando li esse texto pela primeira vez já causou impacto.
Tem uma sonoridade, tem humor.
Um poema é uma brincadeira com as palavras, e foi essa brincadeira
que me cativou, achei gostoso recitar esse poema.
Hoje, 30 anos se passando o que esse poema me fala de novo?
Continua gostoso de recitar, continua novo em folha.
Mas, me fala mais.
Está falando do amor, um amor em si mesmo, sem regras, sem motivos, sem nada.
Apenas o amor pelo amor.
O que esse poema, testemunha de um Breno de 20 anos, pode dizer ao mesmo com 50?
Continue amando.